São tempos difíceis para os viajantes, que se debatem com inúmeras restrições ou limitações financeiras. Para quem está habituado à sua dose de novos lugares e tem um horário cheio, a Start Adventure deixa uma lista de filmes sobre viagens para acalmar a ânsia de viajar… sem spoilers.
2007
Não negamos que todas as bucket lists de filmes sobre e para viajantes começam logo com a história única do Christopher McCandless — abraçamos este facto.
Este filme, realizado por Sean Penn em 2007, recria a jornada de um recém-licenciado que parte da Costa Este e atravessa os grandes territórios naturais dos EUA com destino à Cordilheira do Alaska. Aqui, montaria acampamento num autocarro abandonado (de alcunha magic bus) e após o que se estima terem sido 113 dias, morreria aos 24 anos.
O filme é extremamente fiel ao diário deste viajante único e que pode ser consultado online, contendo 113 entradas que relatam a solidão e a maravilha que viveu no Alaska. Também foram encontradas várias fotos ainda por revelar na sua máquina fotográfica.
Christopher McCandless guiava-se por intensos ideais sobre a humanidade, a sociedade e a Natureza. Segundo ele próprio, “o core mais básico do espírito vivo do Homem é a sua paixão pela aventura. A alegria da vida vem dos nossos encontros com novas experiências e, assim, não existe maior alegria do que um horizonte que muda eternamente, do que a cada dia ter um novo e diferente sol.”
A adaptação cinematográfica desta aventura verídica é uma obra extensa, num tom introspectivo e espiritual, enquanto Chris lida com um passado traumático junto dos seus pais e enquanto tem um impacto forte nas vidas das pessoas que conhece ao longo do seu caminho.
É um filme que cativa também pela sua estética e beleza visual. É extremamente fiel aos esquemas de cores e elementos típicos do viajante nato: verdes, castanhos, as grandes florestas e lagos americanos, poeira, caminhos de ferro, botas de caminhada, mochilas, caravanas, fogueiras e alvoradas. Tem também a banda sonora perfeita, contando com uma incrível coleção de canções de Eddie Vedder, sonhadoras, genuínas e rústicas.
2009
Ser viajante é ser aventureiro, e uma mulher que se distinguiu pela sua natureza intrépida é Amelia Earhart. O filme de 2009, Amelia, realizado pela cineasta indiana Mira Nair e contando com Hillary Swank no papel principal, narra a história de uma das primeiras mulheres aviadoras.
Ao longo da sua curta vida, Amelia Earhart viajou por todo o mundo, tendo começado muito cedo a viver e trabalhar nos mais diversos recantos dos EUA. Amelia foi a primeira mulher a atravessar sozinha, por ar e sem paragens, o Oceano Atlântico (em 1932).
Ficou na História também pelo seu misterioso desaparecimento sobre o Oceano Pacífico quando tentava circum-navegar o mundo em 1937, uma aventura em que visitou inúmeras partes do mundo. A conclusão a que as autoridades americanas chegaram foi que o avião ficou sem combustível e despenhou-se no oceano. Muitos rumores circulam desde então sobre o que terá acontecido, porque, até ao dia de hoje, não foi encontrado nenhum sinal de Amelia, do seu co-piloto e do avião.
Este filme não fica atrás dos livros escritos por Amelia, cujos relatos descreviam como apreciou voar por cima de África e dos animais selvagens. Foi filmado em diversas localizações de grande beleza natural no Canadá e na África do Sul. Nesta adaptação biográfica, a vida de Amelia parece alternar entre a luxuosa e complicada civilização focada em vender a sua figura pública e nas temporadas a bordo de aviões que sobrevoam lugares longínquos.
Existem muitas “guloseimas visuais” para os viajantes: bússolas, rádios, casacos de pele desbotada, cabines apertadas, rios, florestas, desfiladeiros solarengos, planícies africanas… Através deste filme tão interessante, Amelia persevera como uma viajante nata e um símbolo da aventura ao alcance de todos.
2007
Wes Anderson tornou-se num nome de grande peso no cinema, conhecido pela sua linguagem de realização cinematográfica diferenciada, tanto a nível de composição e de visualidade como de diálogo e de desenvolvimento das personagens.
Cada filme de Anderson é único, e o Darjeeling Limited, protagonizado por Owen Wilson, Adrien Brody e Jason Schwartzman, não é exceção. É um filme que mistura a comédia e o drama, mas, acima de tudo (e talvez por isso mesmo), é um filme de viagem, e que vai até à Índia.
Conta os altos e baixos de uma viagem que três irmãos, já adultos e afastados uns dos outros, começam neste país tão singular e tão espiritualmente poderoso. Torna-se claro que os irmãos têm uma panóplia de problemas emocionais que estão por resolver, tanto a nível individual como relacional, que se têm vindo a intensificar depois da morte do pai. Mais ou menos forçados, vão em busca de resolução espiritual e acabam por consegui-la… mas não das maneiras que esperavam.
Este filme incrível atravessa a Índia de comboio, de noite e de dia, e esbate as linhas entre o turista e o viajante através de acontecimentos que envolvem o povo indiano e locais sonhadores: a altitude das montanhas, vários templos, mercados caóticos, aldeias remotas e rios lamacentos.
Há que acrescentar que o comboio que dá nome ao filme, Darjeeling Limited, não existe na realidade. Ainda assim, inspira qualquer amante dos caminhos de ferro a viajar como forma de se encontrar e de se resolver.
2005
Esta é uma comédia cheia de significado, baseada no livro do mesmo nome por Bill Bryson, realizada por Ken Kwapis e protagonizada por Robert Redford.
Retrata a tentativa de Bryson e Katz, o seu amigo de infância mas há muito afastado, de caminhar a Trilha dos Apalaches, ou Appalachian trail no inglês original. Este é um percurso de 3,500 km que sobe a Costa Este dos EUA, atravessando 14 estados, várias cordilheiras e florestas densas da Nova Inglaterra que são simplesmente esplêndidas durante o outono.
O Appalachian trail tem uma qualidade lendária e é uma autêntica aventura, o sonho de entusiastas de hiking e trekking de todo o mundo. No entanto, é um trilho de dificuldade avançada. Percorrer o percurso inteiro é aconselhado apenas a caminhantes experientes, dado que os riscos incluem hipotermia, desidratação, encontros com animais selvagens ou maus-intencionados (várias pessoas pereceram no trilho, vítimas de violência humana) fome, falta de direções, acidentes, isolamento… Ainda assim, muita gente faz um pouco do trilho ou vai completando secções ao longo dos anos.
Bryson e Katz não eram de modo algum experientes, especialmente Katz, que levava um estilo de vida entregue ao álcool e às drogas desde a juventude. Extremamente fiel ao humor inteligente de Bill Bryson, este filme acompanha a dupla de amigos e observa a sua relação renascer numa fase da vida que é pouco retratada no grande ecrã.
Acima de tudo, é um filme que sabe a maneira única como uma relação entre duas pessoas, seja qual for a sua natureza (perceberam o trocadilho?), é testada quando se viaja. No final, todas as experiências e percalços acabam por aproximar e unir os viajantes de um modo que só quem passou por isso conhece.
Panoramas verdejantes, pinheiros que oscilam ao vento, cascatas e rios transparentes, cabanas de madeira, tendas sintéticas, camisas de flanela, loiça de acampamento… A Walk in the Woods é um filme bem disposto e diferente dos outros.
2014
A lista não estaria completa sem Wild, ou Selvagem. Realizado por Jean-Marc Vallée e protagonizado por Reese Witherspoon, recebeu duas nomeações para Óscares.
Rapidamente se pode pensar nele como o Into the Wild, mas com uma rapariga — mas este filme, baseado no livro por Wild: From Lost to Found on the Pacific Crest Trail por Cheryl Strayed, tem uma vida própria, provindo de origens bastante diferentes, lidando com luto, perda, auto-reflexão, solidão, bondade e a imersão na natureza que faz parte do instinto humano.
É também um filme icónico na representação de mulheres que viajam sozinhas, o que, até à atualidade, não era percepcionado como algo comum.
O Pacific Crest Trail percorre a Costa Oeste dos EUA na vertical. Os seus 4260 km ligam o México ao Canadá através dos estados norte-americanos da Califórnia, Oregon e Washington. Estima-se que demora cinco meses a percorrer, embora muitos entusiastas escolham fazer o percurso ou parte deste a cavalo ou de bicicleta. É um desafio difícil e perigoso, embora os animais selvagens não constituam realmente uma ameaça.
A diversidade das paisagens pelo qual esta trilha é tão conhecida passa do deserto solarengo a florestas cheias de neve, atravessando sete parques nacionais. Os cactos e os eucaliptos dão lugar a enormes e robustos pinheiros, e depois a abetos. A beleza das montanhas, dos rios e dos prados, longe da civilização, é indescritível, embora fielmente retratada visualmente nesta obra cinematográfica.
Após a morte da sua mãe e o seu divórcio, Cheryl, profundamente deprimida, decide partir para o Pacific Crest Trail numa viagem de cura emocional. Através de diferentes experiências na solidão da natureza, ou conhecendo diferentes pessoas ao longo da trilha, a resolução e catarse começam a chegar ao espírito de Cheryl, mudando-a para sempre e para melhor.
Acampamentos aconchegantes, botas gastas, mochilas pesadas, nevões, florestas chuvosas e repletas de musgo, lagos imóveis… e a identidade das mulheres viajantes. Um filme imbatível com uma mensagem poderosa sobre a zona de conforto e o que realmente importa na vida.
A Start Adventure espera que, com estes cinco filmes icónicos, quem está bloqueado possa viajar um pouco ou ter novas ideias sobre novas experiências e expedições.
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